quarta-feira, 25 de abril de 2018




O MUNDO ATUAL E O QUE SERÁ DEPOIS












         
Em 1964, o escritor e padre João Mohana publicou O Mundo e Eu , em cujo livro ele apresenta sua visão do mundo à época, com críticas ácidas, sob a perspectiva da fé católica. Hoje, decorridos 54 anos — o autor de há muito falecido — os desacertos da nossa civilização continuam os mesmos, parece até que reforçados com o passar do tempo.
Em 1992, Francis Fukuyama, filósofo americano, previa O Fim da História  com a queda do muro de Berlim e o consequente desmoronamento do comunismo. Mas antes, na década de 1930, G.K. Chesterton, com seus 140 quilos de bom humor e incomparável ironia, enfrentou feras como Bernard Shaw, Sigmund Freud e Karl Marx, desmontando o racionalismo irracional  e a precariedade das ideologias supostamente transformadoras do mundo. Seu argumento — incontestável por sua singeleza natural — era de que tudo decorrera da queda do ser humano, expulso do Paraíso. O troglodita paradisíaco revoltara-se, por sua desobediência perdeu o Éden e transviou-se na administração do mundo.
Assim, por que caminhos esse novelesco homo sapiens tecnológico está levando o mundo? O atual é isso, esse espetáculo mais ou menos dantesco a que somos obrigados a assistir diariamente através da nossa supermídia.  Pessoas atazanadas pela violência, governos desgovernados, nações sob o domínio uma das outras, as mais fortes e agressivas dominando. Um ditador na Síria que persiste em impor sua ideologia, apoiado por outra  ideologia reincidente. Enquanto do outro lado do mundo um homenzinho, quase trigueiro, segura seus governados pela rédea da opressão e desafia explodir boa parte do globo. Em contradita, o homem forte do continente americano brande sua potência com armas mortíferas.
Nós outros não já vimos esse filme? Ocorre que não se trata de filme, é o desfibramento de um olhar, é o alardear de ideias e propósitos extemporâneos, aquele desejo insano de querer salvar o mundo com os pés e não com as mãos, pensando com as tripas e não com a razão natural. Por que não sentam à mesa e negociam? Por que esbravejam e não utilizam o salvo conduto da razão e da diplomacia?  
Simples, porque nossos atuais terráqueos parecem aferrados a uma espécie de prisão funcional, de cuja porta de saída esqueceram as chaves.
E o futuro — o que nos espera? Um cientista, supostamente  superinteligente já criou um robô que só falta mesmo pensar, mas retransmite tudo que seu criador quiser dizer (e fazer?). Desvirtuando toda engenharia da genética natural, os gramiscianos já conseguiram acabar com  o sexo, agora se chama gênero  e não é nascido, mas escolhido a bel prazer pelo infeliz portador.
Manuel Bandeira — aquele poeta recifense autor e criador da simplicidade  natural na poesia, num de seus repentes poéticos magistrais, reservou para si o direito de escafeder desse nosso meio ainda tupiniquim — “Vou me embora pra Passárgada, lá eu sou amigo do Rei.”
Ah, meu caro poeta, se V.Sa. vivo fosse e visse o mundo atual e o que se propõe suceder, não iria para lugar tão imagístico como Passárgada — demandaria correndo para Marte ou Júpiter, quiçá um exoplaneta fora da Via Láctea.
CDL/Bsb, 26.04.18




quinta-feira, 22 de março de 2018


REFLEXÕES  QUARESMAIS




Os cristãos católicos no mundo todo se preparam para celebrar o tempo litúrgico da Quaresma, também nosso País. Segundo a liturgia católica é o período em que os professantes devem aderir à conversão, procedimento  que de si implica a presunção do aumento  e manutenção da fé em Jesus Cristo, da parte do rebanho de fiéis que o consideram o Salvador da humanidade pelo sacrifício de sua crucifixão.  A Quaresma recorda o terrível suplicio do Mestre da Galiléia, perante o Sinédrio e o julgamento presidido por Pilatos, e, na sequência dos fatos, celebra como Ele venceu a morte, mediante a fantástica ocorrência da Ressurreição e Sua não menos fantástica aparição, depois, entre os discípulos estarrecidos.
Enquanto os fiéis se submetem a esse aprofundamento de fé no Filho de Deus feito Homem, nosso mundo se engolfa  numa avalanche de ocorrências, ocorrências essas que não só envolvem  o orbe todo, como em especial nosso sofrido torrão natal, com o desenrolar de outros tantos acontecimentos e  problemas que deles resultam ou são por eles gerados, num verdadeiro círculo vicioso de circunstâncias, ora execráveis, ora de importância significativa. Se por um lado tais ocorrências nos estarrecem, por outro lado nos sevem de alerta e também motivo para sobre elas fazermos  nossas reflexões.
Acode-nos em primeiro lugar a morte do astrofísico e professor emérito da Universidade de Cambridge, Stephen Hawking, o famoso descobridor dos buracos negros no Cosmo, defensor acérrimo da chamada Teoria do Tudo e outros teorias excêntricas, como a das Cordas, assim como os não menos estapafúrdios buracos de minhoca. O físico inglês sofria há mais de cinquenta anos de uma doença degenerativa, de consequências fatais, mas que se prolongou miraculosamente durante tanto tempo, graças à avançada tecnologia nele aplicada e desenvolvida. O cientista escreveu vários livros sobre temas ligados à astrofísica, mas sua vida extinguiu-se, como uma vela, diante dos grandes dilemas científicos que se propôs enfrentar e que jamais conseguiu solucioná-los, nem podia fazê-lo, por absoluta impossibilidade de o ser humano, adentrar os mistérios da  Eternidade e Transcendência de Deus, o Criador do Universo.
E na sequência dos fatos que sucedem à luz desse período quaresmal, de oração e penitência, comentamos nos cinemas uma fita — certamente em razão da própria Quaresma — cuja temática gira nada menos que sobre a vida de Maria Madalena, quem primeiro testemunhou a Ressurreição de Cristo, ao aportar bem cedo ao túmulo onde jazia o corpo do Salvador, de quem ouviu a  enigmática frase Noli mi tangere, não me toques, pois, disse Ele, “não havia subido até o Pai.” O filme tem o título de Maria Madalena , é dirigido pelo cineasta  Garth Davis, o papel de Jesus dado ao ator americano Joaquim Phoenix ( o mesmo que interpretou um imperador tresloucado no filme O Gladiador). Rooney Mara interpreta Madalena, com boa e convincente interpretação, o que não o fêz Phoenix, dando a Jesus uma voz rouca, com aparência extremamente simplória, para não dizer medíocre. O roteiro coube a duas mulheres Helen Edmundson e Phlippa Goslett, as quais, com forte insinuações feministas e ideológicas, impuseram ao filme uma narrativa descontextualizada dos Evangelhos, que, de certo modo, desvaloriza a personalidade de Jesus e, a nosso ver, tampouco enriquece a de Madalena, pois não apaga sua condição de prostituta arrependida, como lhe impinge a narrativa dos Evangelistas. O que mais desmerece no filme é que seus realizadores na verdade omitiram os episódios mais importantes da vida de Jesus, no seu Ministério, tais como o Sermão da Montanha, a realização da Páscoa e das significativas palavras que entronizaram a Eucaristia, a Ressurreição e o fantástico momento da Ascensão do Senhor. Em razão disso, o filme restou pobre, com narrativa arrastada e sem grande motivação.
Enquanto isso, assistimos nos dias que correm o tumulto decorrente do recente assassínio brutal de uma Vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, de cujo fato tem se aproveitado o ativismo político ideológico auxiliado pela mídia sensacionalista. Demonstração patente de quanto nos afastamos dos ensinamentos do Mestre, em especial os pobres habitantes desta Terra Papagalis, inculta, mas ainda assim bela, obrigada a se espelhar numa modernidade antropofágica e volúvel.
Haja coração, fígado, nervos e estômago para digerir tanta desvario, incompreensão e irracionalidade. A essa altura, o Ressuscitado, egresso do tumulo, há de dizer, perplexo, aos homens do mundo: Noli mi tangere, pois ainda não subi ao Pai.  
                                                                                Bsb, 22.03.18


quinta-feira, 1 de março de 2018



O SUSTENTÁVEL  PESO  DO  MAL







Nestes dias tumultuados, assalta-nos uma questão: Por que o Mal tem vicejado tanto em nosso País? Por que há mal no mundo? E o que é afinal esse Mal, a quem ele aproveita? A literatura inspira o Mal ou é o Mal que tem na literatura sua maior inspiração? Afinal por que Deus permite o Mal no mundo?
Na literatura, o Mal parece  ter ganho os louros de vencedor, ocupa o panteão dos epítetos heroicos. O Mal contamina toda a obra literária e “... se permitirmos que ele condene, por contaminação, tudo em que encosta, então nada se salvará no universo humano.”  Quer dizer — em palavras claras — que o universo literário e, por extensão, todo o projeto civilizatório encontra-se eivado do Mal, o que in extensis não deixa de ser um absurdo. A informação consta de recente artigo da revista Veja, edição 2571, de 28.02.18, título do artigo “A Literatura e o Mal”, o autor o sr. José Francisco Botelho.
Nós, a vida, o mundo, somos todos refém do Mal? Não é bem assim. A opinião do articulista é muito superficial, aliás, como o é toda mídia, pelo menos a brasileira.
Reflitamos um pouco sobre esse pavoroso Mal ao qual nós somos supostamente refém. Consultemos os eruditos. Para Aristóteles (384-22 a.C), o Bem é equivalente à felicidade, portanto prevalece sobre o Mal. Deriva da ação racional do homem, o pensar a essência da natureza deste. A Virtude integra a ação humana, considerada  seu  meio termo, o justo equilíbrio. Portanto, o Mal seria o desequilíbrio da ação humana, ou uma ação irracional, dessencializada do ser.
Já os epicuristas, adeptos do prazer, ligavam o Mal a uma dor do corpo e do espírito, devia ser evitada, como um desprazer. Na Idade Média, Santo Agostinho (354-430), seguindo a Patrística aristotélica, afirmou que o Mal era o “não-ser”, o contrário do Bem, sendo este a essência do Ser. São Tomás de Aquino (1226-1274), o maior expoente da Patrística, atualizou a concepção aristotélica agostiniana para pontificar que o Mal resultava dos atos humanos e também das coisas. O Mal seria a privação do Bem, mas a Vontade capaz de controlar os atos humanos.
Com ao advento da Reforma Protestante, figuras como Leibniz (1646-1716) e Immanuel Kant (1724-1804), modificaram um pouco essa propedêutica do Mal. Leibniz entendia que o Mal contribuiu para o grau de perfeição das criaturas, contribuindo para a plenitude do Bem. Ademais, o Mal resultaria do trabalho de Deus na construção do Melhor Mundo Possível. De sua vez, Kant aprofundou o conceito do Mal em termos ético-políticos e filosóficos. O Mal sinaliza uma vontade maligna, espécie de poder maléfico universal inerente à natureza. Manifesta-se de forma clara, sem neutralidade na natureza. É ausência do Bem ou sua transgressão. A essência do Mal o somatório da oposição, transgressão e perversão do Bem. Schelling (1775-1854), com seu idealismo transcendental, defende que o Bem e o Mal são predicados das ações humanas e o Mal se relaciona com a vontade humana. Hegel (1770-1831), autor de Fenomenologia do Espírito, expende que o Mal é escolha do homem e decorre de pulsão ou desejo dele, em função de sua visão do mundo. Assim, o Mal é uma atitude de desrazão, também configurando uma transgressão da norma jurídica.
Modernamente, o Mal tem sido objeto de conceitos mais atualizados. Na ética protestante de Paul Ricouer (1923-2005), o Mal desafia a filosofia e a teologia. Como o Criador, Deus enraíza Nele o próprio Mal. Denis Resenfeld (1956) considera o Mal contrário ao Bem, os dois  Mal e Bem simetricamente relacionados — um dependendo do outro. Jean Baudrillard (1929-2007), o mais pessimista de todos em nossa análise, viraliza nos seus escritos e palestras — o Mal é capaz de mover o mundo, pois é encantador, sedutor. Não é moral, e de tal ordem constitutivo que permite criar paraísos artificiais do consenso.
Vê-se que o Mal não é tão simples assim. Os analistas revelam que o Mal é inerente ao ser do homem, representa seu lado negativo, constitutivo, mas controlável pela vontade racional.
Portanto, o Mal existe no mundo, é condicionante da natureza humana, embora o agir esteja sujeito sempre ao crivo da razão. Deus não deseja o Mal para o mundo, sua excelsa criação — tampouco como ação reivindicatória ou de vendeta moral ou moralizante. Mas permite que ele, o Mal, permeie o mundo e as coisas nele constitutivas, para que o ser humano, por seu livre arbítrio, saiba espelhar sua vida e conduzi-la no mundo, não na negritude da noite, mas na claridade do dia, e assim reconheça o autêntico sentido da vida — que é conciliar-se com o lado sagrado da existência. Sobre o que acontece atualmente no mundo, diremos que, à medida que os seres humanos se afastam do sagrado, substituindo-o pelo materialismo em suas ações desconstrutivistas, o Mal se imporá, com suas ideologias e as pessoas, seduzidas, perdem o verdadeiro sentido do ser — afogam-se no vazio do não-viver.
Quanto à literatura, entendemo-la como arte e criação essencialmente humanas, devendo também pautar-se por esses parâmetros da virtude. Nas letras, é preferível  mantê-las iluminadas  do que conduzi-las pela negritude da escuridão na preferência dos leitores.
CDL/BSB, 1.03.18
                                                      


terça-feira, 16 de janeiro de 2018



O MULTIVERSO E A VISÃO CRÍSTICA DO UNIVERSO


No drama shakespeariano “Hamlet”, Ato 1, cena III, o personagem Hamlet diz a seu amigo Horácio: “Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha tua filosofia.” Parece que nossos cientistas, os físicos principalmente, querem levar isso muito além do pé da letra, transbordando inclusive para além da própria filosofia e se esforçam por tornar realidade o que é irreal.  
Todos sabemos quão ilusórias e apressadas têm se tornado as elucubrações científicas, sobretudo nas áreas da biologia, psicologia e cosmologia, a partir da própria visão evolucionista de Darwin, a que se apoiou o próprio Freud com seu psicologismo racionalizante. Em biologia, eis um Richard Dawkins que nos impinge um tal genes egoísta para explicar a luta de classe evolucionista em que a célula humana pratica, espécie de vale tudo para a sobrevivência humana, dai sua justificativa porque os seres humanos são violentos, aéticos e imperfeitos por constituir sua própria natureza.
A partir de 1952, devido a uma palestra realizada em Dublin, o físico Erwin Schröedin referiu pela primeira vez a suposta existência do multiverso, ou seja, da possibilidade de em vez de um, existirem na realidade vários. Cientistas logo vêm abraçando essa ideia, até que, mais recentemente, em 2015 um certo astrofísico afirmar ter encontrado evidências, após o Big Bang, de ser possível essa possibilidade cósmica. Eis que Ranga-Ram Chary, ao analisar o espectro da radiação cósmica, assegura ter encontrado sinal dessa evidência numa explosão 4.500 mais intensa que as demais, com base em prótons e elétrons. Foi o bastante para alguns cientistas abraçarem a hipótese da ocorrência de outras colisões, além do Big Bang. Logo físicos como Max Tegmark e Brian Greene aproveitaram a deixa para formularem a teoria da existência dos chamados multiversos ou cada tipo de universo nele incluído.
De sua vez, Brian Greene propôs existirem 9 tipos de universos paralelos: o acolchoado, o inflacionário, membrana, o cíclico, paisagem, o quântico, o holográfico, o simulado e o final. Cada qual com especificação própria, ou seja, um colchão, o distributivo, o envolvido numa membrana, o com membranas múltiplas, o que depende dos espaços que usa, aquele capaz de gerar outro universo, o existente num espaço informativo, por fim o que pode ser matematicamente possível. 
É certo que essa fantástica teoria não teve o apoio de outros cientistas, dentre os quais, Paul Davis em seu livro A Breve História do Multiverso. Também George Ellis em seu artigo na Scientific American, O Multiverso realmente existe?
Essa teoria não é uma proposta simplória. Outras a acompanham ou com ela têm implicações, como a chamada Teoria das Cordas, dos Buracos Negros e do Buraco de Minhoca, as últimas formuladas por Stephen Hawking, o celebrado físico número um da modernidade.
Todas essas teorias, com suas formulações esdrúxulas, segundo seus apoiadores têm um único e absoluto propósito: explicar o inexplicável. É uma espécie de fisiologismo cosmológico querer, como se diz popularmente, tirar leite de pedra. Disse-o bem o também físico e erudito  Wolfgang Smith em sua última obra editada no Brasil, que chega a ponto de satanizar a tal teoria do Big Bang, por ser absolutamente contrária ao princípio bíblico, que ele considera  inatacável, inclusive explicando porquê.
Se tais teorias ainda não encontram até mesmo a certificação técnica e científica e que o próprio Big Bang não é a última palavra, por gerar dúvidas, como aceitar especulações extravagantes quando podemos simplesmente acreditar no que preconiza o Gênese Bíblico: “1. No princípio, Deus criou os céus e a terra.”?
Aliás, seria bom e extremamente racional recordar as palavras sábias de um grande erudito francês, Montesquieu, quando escreveu: “O homem que não é nada, procura, por sua fraqueza e incapacidade, sondar os mistérios de Deus, mas ali não encontra nada em que se apoiar.”
Quem ousará compreender e desvendar os mistérios da eternidade, Deus que criou todas as coisas inclusive o universo, o multiverso, e demais fantásticos quejandos que compõem o Cosmo?              

                                                                            Bsb, 16.01.18

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017



                             LIBELO    NATALINO
               

                                     Murilo Moreira Veras





Os caminhos deste mundo são cada vez mais difíceis e imperfeitos.

– Que este Natal nos indique o melhor caminho.

A Natureza responde violentamente quando agredida  pelos humanos.

– Que este Natal propicie sempre a harmonia entre todos os seres e criaturas.

Em nosso País imperam o desacerto e a intemperança.

– Que o Natal nos dê mais equilíbrio no fazer e conviver.

Os brasileiros  nos comprazemos hoje em combater  o mau combate.

Injustiça e ideologia permeiam nossos campos de ação

– Que o Natal dê às pessoas mais tirocínio, liberdade e compreensão.

Os corações humanos se desumanizam cada vez mais de ódio contaminados.

– Que o Natal, em vez do rancor, lhes infunda equilíbrio, doçura e união.

Os juízos são cada vez mais incertos, desconexos e impudicos.

– Que o Natal nos advirta contra os desvios de sermos injustos no conviver.

Intransigência, divergências, violência e improbidade: eis os parâmetros aéticos de hoje.

– Que o Natal prodigalize mais certeza e tirocínio: não somos trogloditas,  perdidos na escuridão.


Eis o nosso libelo natalino mais reparatório: se atendido, o mundo talvez fique melhor, um lugar ainda possível,  onde se possa viver e amar.                                 

                                                                                  Natal, 2017
                               
                                       
  



                                                         


quinta-feira, 16 de novembro de 2017



          O MENINO DOS ÓCULOS DE ARO DE METAL
             HOMENAGEM     PÓSTUMA

     


      Nestes tempos de afásica incerteza, onde vicejam a violência e a mediocridade — em boa hora a Cidade de Parnaíba, a Prefeitura e a Câmara Legislativa, uníssonas a outras vozes literárias, decidiram homenagear postumamente o escritor Everaldo Moreira Veras. No dia 13 deste o Prefeito do Município outorgou ao escritor o diploma de mérito municipal, na pessoa da viúva, em significativa solenidade. Everaldo Moreira Veras, assim, recebe a devida comenda honorífica por sua vida dedicada às letras — pelo que  posso informar durante mais de cinco  décadas ao ofício de escrever. Além da comenda, o escritor tem seu nome gravado em placa de rua na Cidade — e, o que é mais expressivo, uma sala de leitura infantil na Biblioteca Municipal, onde, agora, seus livros serão expostos à disposição dos leitores.
         A produção literária do autor é prolífica, tendo ele transitado praticamente em todos os gêneros com proficiência e espírito criativo, sua preocupação ser original e ter um olhar crítico intenso sobre as coisas da vida e do mundo, sempre a identificar o surrealismo da realidade, o que resta de bom e ruim no ser humano. Por fim, dialeticamente sublimar esse ser, não sob o crivo do “martelo de Deus” nietzschiano, mas de um humilde servo sob a fúria de Jeová, cujo sofrimento será resgatado pela obediência aos desígnios superiores.
        O capital literária de EMV ainda está por ser explorado, face as reflexões que suas obras sugerem, tanto do ponto de vista da “poética”, isto é, a estrutura e simbologias linguísticas de que estão impregnados, até certas facetas que implicam conceitos ontológicos, quando o autor explora a problemática do ser em face do existir, enquanto vislumbra a parte horrorífica da vida – um discurso que beira o niilismo e a insanidade, não ensejasse sua escritura incrível parecença com a nossa realidade, em desatino.
         Temos de parabenizar o ilustre Munícipe pela feliz iniciativa — feito, sem dúvida, que extrapola o próprio mérito da gestão em si, para se constituir valoração da própria Cidade de Parnaíba, berço, por sinal, de escritores de elite, de que fazem parte, por exemplo, Humberto de Campos Veras, Assis Brasil e Diogo Mendes Sousa  e certamente muitos outros.
          Everaldo Moreira Veras vem, pois, se juntar a essa plêiade de homens de letras, quando o nome do escritor passa a ser nome de rua e a Biblioteca Municipal acaba de inaugurar sala infantil e seus livros, os de gênero infantil, como esse “O Menino dos Óculos de Aro de Metal”, tomam lugar nas prateleiras aos do insigne mestre Monteiro Lobato e outros autores renomados, que militam nesse importante veio literário, ainda incipiente no Pais.

          Parabéns, Parnaíba que, com esse feito, demonstra ainda saber guardar e reviver uma obra como “O Menino dos Óculos de Aro de Metal” e assim evitar que seu autor  não se perca nos desvãos do esquecimento
CDL/Bsb.   

domingo, 29 de outubro de 2017




           MÍDIA —  INFORMAÇÃO OU IDEOLOGIA?







       A mídia brasileira — escrita, falada e televisiva — vem sistematicamente fazendo jus à invectiva do iluminista Voltaire “Mente, mente e alguma coisa ficará...”
Basta acompanhar a narrativa dos fatos a sucederem-se de maneira assustadora ao nosso redor,  que a televisão adora subvertê-los para seu proveito.
             Observe-se, por exemplo, as atuais edições da Veja, a de nº 42 em particular, de 18.10.17. Já a capa dá para o leitor consciencioso repugnar: uma criança abraçando o suposto pai de costa, com o título capcioso — “Meu filho é trans...” Toda a edição não passa de uma apologia a essa mais moderna e insidiosa anomalia, dita científica, intitulada de “transsexualidade”. Ou seja, a teoria de que os seres humanos são gerados pela natureza genética, mas  será a cultura,  as demandas sociais, inclusive os comportamentos e vontades pessoais, que hão de consagrar o gênero das pessoas. Portanto, os indivíduos em termos sexuais são neutros. Em outras palavras, esse negócio de sexo, até mesmo os símbolos sexuais, os órgãos físicos — isto é coisa de preconceito, machismo, já está ultrapassado, pois  trata-se de uma invenção do capitalismo, para oprimir o mais fraco, através da primazia sexual. É a “teoria do gênero” — a velha e infame “Queer gender”, celebrada por Margareth Sanger (1879-1966) feminista pro-abortiva que, no passado recente, fez apologia da eugenia, e cuja bandeira de  reinvindicação recebeu — pasmem — o apoio do fascismo hitlerista.  Segundo outro apologista da teoria esdrúxula, John Mullen, em obra de 1955, mudava a palavra “sexo”, para “gênero”. “Se você é homem, mas age como mulher, você é mulher” — afirmou. Em 1949, a escritora francesa Simone de Beauvoir, amante de Jean-Paul Sartre, declarou: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.”
             O artigo da Veja, assinado por Giulia Vidale, está repleto de insinuações malévolas, espécie de pegadinhas que precisam de olho clínico para desvendar o significado perverso de seus conteúdos. Aliás, as fotos ilustrativas demonstram subliminarmente o veneno da informação — crianças abraçando os pais, à página 76, uma menina de 6 anos também abraça o pai, um homem todo tatuado com os dizeres: “No começo fiquei atordoado, sem saber onde correr.” Á página 77, a articulista força a barra, afirmando ...” Os transgêneros fazem parte do cotidiano brasileiro” que ela diz ser 0,5% da população, ou seja, 1 milhão de pessoas. Onde ela obteve esse fantástico percentual? Ela não informou. Apenas alega que, seguindo orientação da revista,  acompanhou durante um mês o cotidiano de famílias. Meninas que se transformam em meninos e vice-versa meninos em meninas.
            Os casos indicados são capciosos (pag.78) — um menino com 6 anos assumiu ser menino. Observe-se o verbo “assumiu”. À pag. 79: menino que nasceu menina agora aos 12 anos “assumiu” a identidade de menino. E depois essa pérola em que a autora recorre ao alvará científico: “... o psiquiatra então sugeriu que a partir daquele momento ele fosse tratado como menino” no colégio e já tem carteira de identidade”.
             Toda a reportagem é costurada em linguagem assim,   subliminarmente cifrada. Afirma que em São Paulo desde 2014 há uma determinação que “permite aos estudantes da rede pública estadual utilizar o banheiro conforme o gênero “(pag.80). O Conselho do Ministério da Educação aprovou, por unanimidade um parecer que “... autoriza o uso do nome de acordo com o gênero escolhido para todos os estudantes trans das escolas de educação básica no país.”(pag.80), mas a decisão ainda permanece “sub-judice” do ministro da pasta. Ora, a norma não devia viger ainda, portanto, a informação é capciosa. Então não tem critério nenhum, o “trans” pode usar o banheiro que lhe dá na telha? E como fica a menina que se constrange ao ver um marmanjo trans usando o banheiro feminino?  E vice-versa, uma menina trans compartilhando o banheiro específico de homem?
          À mesma página 80, lê-se essa verdadeira falácia biológica, que agride totalmente as leis naturais: “... Uma criança transgênero vai construindo sua identidade de gênero, mas não se trata de um processo abrupto.” Em que lei biológica a articulista se baseou para disseminar tal aberração? Na criança o que vai sendo construído é a personalidade, o seu raciocínio, enfim, o seu caráter como ser humano. Isto porque seu sexo já está definido desde o nascimento, se homem ou mulher. Dizer como foi dito é uma transgressão do léxico e também do pensamento, um sofisma gramatical que se transforma numa transgressão aos fundamentos da Biologia.
           Mas, o que mais nos repugna nessa reportagem é a maneira como os argumentos contrários foram subtraídos. Por que não se apresentaram as contraditas das informações — os verdadeiros códices da Biologia e Anatomia Humana, assim como os aspectos éticos, estéticos e até mesmo morais que a matéria exige? Ora, é simples: para não contrariar os interesses monetários que subjazem a essa mídia, que nada tem de informativa, mas serve-se como canal de propagação ideológica e destruição da célula mater da sociedade — a família.