O LEGADO DE D. PEDRO II EM PERSPECTIVA
Praticamente às portas das
eleições, o retrato do País não apresenta situação das mais auspiciosas, no consenso
internacional. Claro que há países em pior estado, dispensável até mencionar
quais, por óbvio. Em termos geopolíticos, o mundo parece se equilibrar em corda
bamba, com vicissitudes em toda parte, mas com certo grau de suportabilidade.
E
nosso País, ousará vencer suas diferenças educacionais, econômicas, políticas,
enfim acertar os passos e alinhar-se entre os desenvolvidos, sobretudo sair do
atraso devido a corrupções endêmicas, que desmoralizam nossas instituições, a
corroer-lhes os alicerces?
Se
tivermos a curiosidade de auscultarmos nossa história, mesmo a oficial, teremos
a surpresa de verificar que o Brasil, no passado não muito remoto, já viveu
tempos de “prosperidade e progresso” — e acreditem se quiserem — não foi na
República, essa vigente desde 1889, proclamada pelo Marechal Deodoro da Fonseca, mas, sim,
no Império. Sim, no suposto “Velho
Império”, aquele que o espírito modernista revolucionário chamava de
ultrapassado e que ousaram derrubar em 1888, substituindo-o pela decantada, mas
praticamente inócua República dos positivistas maçons.
E
sabem a quem se atribuía esse extenso período de prosperidade e progresso, espécie
de “idade do ouro” do Brasil? Nada menos que sob o governo de D.Pedro II, o Imperador do Brasil, que administrou
o País de 1831 a 1889, sua gestão iniciada quando tinha apenas 14 anos de
idade. Foi drasticamente deposto naquela última data por militares
republicanos, insatisfeitos com o regime, apesar do grande prestígio do
Imperador junto ao povo. Era um governante modesto, benevolente, mas culto e
diligenciador, preocupado com o bem-estar do povo. Com o tempo e em virtude da
grande injustiça de que foi vítima, sua expulsão e de sua família em 1889,
obrigando-os a se exilarem na França, passou a ser considerado o maior
brasileiro de nossa história, verdadeiro símbolo nacional.
O
próprio Rui Barbosa — por sinal um dos que apoiou o banimento do Império — em discurso
no Senado, em 1914, assim se referiu ao doloroso affaire: “A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal de nossa
terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de
todo o nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.”
Por
sua vez, a historiadora Lília Moritz Schwarcz revela que ele, o Imperador Pedro
II, transformou-se num mito. José
Murilo de Carvalho, historiador pernambucano validou a notável figura do
Imperador: “... pela longevidade de seu
governo e as transformações ao longo de seu curso, nenhum outro chefe de Estado
marcou mais profundamente a história da nação.”
Enquanto
isto, a República positiva dos militares maçônicos, sob o tacão inglês, com seu
apanágio de reformismo e progresso, desde os primeiros passos que arrebataram o
poder do tirocínio do velho, mas erudito Imperador, erodiram a nação com
medidas atabalhoadas, ao longo do tempo a República desvalorizada pela maioria
da população, menos pelo crédito dado a democracia nascente e mais pela
impopularidade de seus discípulos tributários. Certamente pelos desacertos e o
demérito de quantos sucederam o Marechal Deodoro
da Fonseca, que nunca conseguiu superar a traição cometida contra o amigo
de infância e escola Pedro II.
Indagamos
hoje. A que se atribuem os contínuos desacertos, os imbróglios sócioeconômicos,
e demais ineficácias dos governos republicanos brasileiros na consecução do
progresso e na melhoria do bem-estar do povo?
Por
que os brasileiros somos um povo incrédulo politicamente, nossa moral é tão baixa,
descremos tanto da política quanto da justiça e das instituições, ainda
frágeis, a burocracia nos prejudicando a vida? Chegamos a descrer até de nossa
capacidade de ser livres e independentes.
Por
que somos desrespeitosos para com nossos ícones históricos, descuramos de
nossos deveres, enquanto paradoxalmente nos rejubilamos de sermos pessoas cordiais naquela perspectiva do homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda, constante
do livro Raízes do Brasil de 1936?
Não seria o chamado “jeitinho brasileiro”
, aquela atitude de o brasileiro olhar as coisas, sair-se bem em tudo,
sempre querendo burlar o outro? Isso que fez o Presidente Barack Obama chamar o
então presidente Lula, em visita aos States de: “You are the Guy!” – você é o cara! Na gíria americana, o safado, o cafajeste.
Por
que o brasileiro é assim, supostamente cordial até para com sua Mãe-Pátria? Com
a devida vênia é porque falta ao brasileiro um valor a que respeitar, um
governo consciente, não tem um ícone, um brasão, uma figura na qual deposite sua
fé pública, um símbolo inconteste de sua Pátria. Por isso, o brasileiro é uma
pessoa errática, sem fé, principalmente com relação à coisa pública, à
cidadania, moral e caráter suscetíveis ao erro.
Por
esses dias assistimos ao show de virtuosidade que foi o casamento real do casal Harry e Meghan, o fervor com que o povo
acolhia o cerimonial com toda sua pompa — fato muito diferente de nosso
carnaval. Então nos lembramos de quanto nos faz falta uma realeza, um valor
acima de nossas frivolidades cartoriais. Sim, falta-nos uma figura icônica, a
de um Rei, uma Rainha como Elizabete II ou um Imperador como D. Pedro II.
Vêm-nos à baila os 60 anos de prosperidade e progresso de nosso velho ícone
nacional D. Pedro II.
Será
que, sob o signo de um reinado ou império não estaríamos livres dos horrores
que hoje protagonizamos no País? É a pergunta que não nos deixa calar.
Bsb,
22.05.18