DE HOMO SAPIENS A INSAPIENS
Em
01.03.20 — às vésperas da pandemia — o Correio Braziliense publicou o artigo A
era da espécie Homo insapiens, o autor Dioclécio Campos Jr, médico,
professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria e
presidente do GPEC. A declaração do distinguido clínico ecoa como uma severa
advertência à sociedade, à cultura e a todo processo civilizatório vigente. Tão
importante constitui as palavras do Dr. Dioclécio, que é de nosso dever,
comentá-las nos trechos mais destacados.
Reza a biologia evolutiva que
o homo sapiens é designação
científica para o homem moderno, do latim, homem sábio, homem que sabe.
Os evolucionistas darwinianos atestam que o homem moderno tem como ancestral
comum os gorilas e os chimpanzés e na escala evolutiva australoptecos, homo
ergaster, homo erectus, homo neanderthalensis até homo sapiens. A espécie
surgida na África há 200 e 150 mil anos, a partir da linhagem do homo ergaster.
Como esse ser primitivo
passou de troglodita a sábio, através de sucessivas etapas, aumento da
capacidade cerebral de 450 cm³ a 1,350 cm³, raciocínio, linguagem simbólica,
pensador e postura ereta — até hoje é um mistério.
No seu artigo, com firmeza e conhecimento
de causa, o Dr. Dioclécio atesta — até contrariando o velho Darwin — que o maximizado
homem sapiens está regredindo, de sapiens para insapiens. Como e porquê
é o que as observações do clínico vão revelar. Assinalemos alguns pontos de seu
raciocínio.
O saber humano moderno e
modernizante incorre num erro crasso: desconstrói seu cabedal de valores
cumulativos no processo civilizatório. A cultura moderna subverte-os, em favor
de uma suposta atualização. O progresso tecnológico, ao invés de se basear nos
fundamentos do passado, adota concepções novas, extravagantes. O computador
comanda dados e também emoções e comportamentos. Amparadas numa espécie de
ecumenismo socialista, os movimentos globalistas reprimem as aspirações humanas,
o livre pensar, o personalismo intrínseco ao ser humano. Em vez de cidadãos,
espetros sociais, escravos do ente estatal vigente. Relações interpessoais
transformam-se em criptogramas computacionais, memes figurativos. A alteridade
do outro que nos torna conscientes da misericórdia, agora nos afasta do próximo
devido o crescente individualismo. “O homem é o lobo do homem” — “... o
ser humano só é solidário no câncer.” A decantada IA — Inteligência
Artificial — das ficções surrealistas a salvação do mundo, a máquina se sobrepondo
à razão e à criatividade humana. A matéria esmagando o espírito, a religião, a
transcendência destinada a desaparecer do planeta.
Famílias não têm mais
sentido, são meros núcleos de encenações familiares, crianças sem vínculos
filiais, produtos de divórcios e relações carnais. Parodiando o poeta: “Filhos,
melhor não tê-los, se tê-los torná-los vítimas do consumismo” Não passam de
robôs, mercê das tecnologias e da informática, da mídia massificada. Seres
humanos autômatos, classificáveis, domesticáveis, terceirizáveis. Homo sapiens
— não, o super humanoide está involuindo para homo insapiens.
Pois este estremado
contraditório do Dr. Dioclécio — cujo tema a média falada e televisiva jamais
explorou, preferindo a vulgaridade —reviveu-a o Padre Mário, simples sacerdote
da Paróquia Cura d’Ars, em Brasília, lendo-a em sua homilia em missa dominical
recente.
No início do cristianismo o
profeta João Batista proclamou a vinda do Mestre, Padre Mário da solidão do
Planalto Central reproduz, em pleno púlpito, a denúncia esquecida do corajoso
médico: a sociedade humana, dita moderna, secularizada como laica é o mais novo
disfarce de adesão ao ateísmo.
CDL/Bsb, 15.07.20