terça-feira, 14 de julho de 2020





DE HOMO SAPIENS A INSAPIENS











Em 01.03.20 — às vésperas da pandemia — o Correio Braziliense publicou o artigo A era da espécie Homo insapiens, o autor Dioclécio Campos Jr, médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria e presidente do GPEC. A declaração do distinguido clínico ecoa como uma severa advertência à sociedade, à cultura e a todo processo civilizatório vigente. Tão importante constitui as palavras do Dr. Dioclécio, que é de nosso dever, comentá-las nos trechos mais destacados.
Reza a biologia evolutiva que o homo sapiens  é designação científica para o homem moderno, do latim, homem sábio, homem que sabe. Os evolucionistas darwinianos atestam que o homem moderno tem como ancestral comum os gorilas e os chimpanzés e na escala evolutiva australoptecos, homo ergaster, homo erectus, homo neanderthalensis até homo sapiens. A espécie surgida na África há 200 e 150 mil anos, a partir da linhagem do homo ergaster.
Como esse ser primitivo passou de troglodita a sábio, através de sucessivas etapas, aumento da capacidade cerebral de 450 cm³ a 1,350 cm³, raciocínio, linguagem simbólica, pensador e postura ereta — até hoje é um mistério.
No seu artigo, com firmeza e conhecimento de causa, o Dr. Dioclécio atesta — até contrariando o velho Darwin — que o maximizado homem sapiens está regredindo, de sapiens para insapiens. Como e porquê é o que as observações do clínico vão revelar. Assinalemos alguns pontos de seu raciocínio.
O saber humano moderno e modernizante incorre num erro crasso: desconstrói seu cabedal de valores cumulativos no processo civilizatório. A cultura moderna subverte-os, em favor de uma suposta atualização. O progresso tecnológico, ao invés de se basear nos fundamentos do passado, adota concepções novas, extravagantes. O computador comanda dados e também emoções e comportamentos. Amparadas numa espécie de ecumenismo socialista, os movimentos globalistas reprimem as aspirações humanas, o livre pensar, o personalismo intrínseco ao ser humano. Em vez de cidadãos, espetros sociais, escravos do ente estatal vigente. Relações interpessoais transformam-se em criptogramas computacionais, memes figurativos. A alteridade do outro que nos torna conscientes da misericórdia, agora nos afasta do próximo devido o crescente individualismo. “O homem é o lobo do homem” — “... o ser humano só é solidário no câncer.” A decantada IA — Inteligência Artificial — das ficções surrealistas a salvação do mundo, a máquina se sobrepondo à razão e à criatividade humana. A matéria esmagando o espírito, a religião, a transcendência destinada a desaparecer do planeta.
Famílias não têm mais sentido, são meros núcleos de encenações familiares, crianças sem vínculos filiais, produtos de divórcios e relações carnais. Parodiando o poeta: “Filhos, melhor não tê-los, se tê-los torná-los vítimas do consumismo” Não passam de robôs, mercê das tecnologias e da informática, da mídia massificada. Seres humanos autômatos, classificáveis, domesticáveis, terceirizáveis. Homo sapiens — não, o super humanoide está involuindo para homo insapiens.
Pois este estremado contraditório do Dr. Dioclécio — cujo tema a média falada e televisiva jamais explorou, preferindo a vulgaridade —reviveu-a o Padre Mário, simples sacerdote da Paróquia Cura d’Ars, em Brasília, lendo-a em sua homilia em missa dominical recente.
No início do cristianismo o profeta João Batista proclamou a vinda do Mestre, Padre Mário da solidão do Planalto Central reproduz, em pleno púlpito, a denúncia esquecida do corajoso médico: a sociedade humana, dita moderna, secularizada como laica é o mais novo disfarce de adesão ao ateísmo.

CDL/Bsb, 15.07.20


quinta-feira, 25 de junho de 2020


            MUNDO MELHOR 
                  UMA UTOPIA?



Cada dia nos convencemos de que a melhoria de mundo se distancia cada vez mais. Referimo-nos à capacidade de o humanoide evoluir, não na escala  evolutiva de Darwin, mas no sentido humanístico,  de tornar-se um ser íntegro e  verdadeiro.
A teoria do Mundo Melhor tem origem na linha do tempo, Platão, cerca de 380 a.C talvez a tenha delineado. Outras foram surgindo, inúmeras segundo a Wikipédia. Citemos algumas por curiosidade.: A Cidade Virtuosa, história de Medina, a cidade santa de Maomé; a Utopia (1516) de Thomas More; A Cidade do Sol (1553) de Tommaso Campanella; Nova Atlantis (1627) de Francis Bacon;  Viagem a Ícara (1842, de Etienne Cabet 3001 – A Odisseia Final, de Arthur Clarke e mais recentemente a Ecotopia 2121, de Alan Marshal.  Em sua novela Candide ou o Otimista (1759) Voltaire, o iluminista,  ironizou a tese de o Mundo Possível do filósofo Leibniz, através da figura irônica de seu personagem Dr. Pangloss.            Mas o mito disseminou-se por toda a Idade Média até os tempos atuais,  chegando a nós pelo  intrigante livro de Aldous Huxley, em que predizia o automatismo da humanidade. É uma espécie de sonho dourado que nunca se realiza, os sonhadores muitas vezes construindo castelos no ar, como aquela plêiade de inocentes úteis que ousaram levar a cabo o tal socialismo utópico, fonte na qual se baseou, de forma distorcida, nosso ideólogo mais badalado até hoje — Karl Marx.
Vê-se que o Mundo Melhor constitui, em tese, o sonho de purificação da humanidade, o aperfeiçoamento do ente e o sentido que teria na consecução do Universo, a nosso ver, como paradigma da perfeição e porque não dizer, sua transcendência.
Por que tanto sonha a humanidade? Teriam razão nossos já sonhadores pósteros? Ora, segundo as Escrituras, o próprio Criador teria criado a primeira das maiores utopias: o Paraíso, onde teria colocado nossos protótipos ancestrais, Adão e Eva. E sabe-se, ao vislumbrar-se o painel histórico da humanidade que o sonho da felicidade humana jamais foi alcançada. Sê-la-á, um dia?
Um filme muito providencial, ao nos debruçar sobre tão meditabundo assunto da felicidade humana, veio do canal Netflix, intitulado Ele Está de Volta. Ele é nada menos que Hitler, que teria sobrevivido no seu bunker. Ele caminha por Berlim no ano de 2014 e fica estarrecido, pois só encontra desgraça, brigas, a Alemanha com economia desorganizada, vagabundos nas ruas, greves, passeatas de LGBT, imigrantes em toda parte. Todo mundo acha que ele, Hitler, não passa de um palhaço, a divertir as pessoas, mas começam a se interessar pelo que ele diz, que está tudo errado, que é preciso consertar o País, chega a ser elogiado, inclusive nos programas que faz na TV. Acaba virando espécie de herói.
Se revertermos essa hilária estória e a aplicarmos ao nosso mundo atual e ao Brasil, observamos o quanto nosso tempo tem se degringolado. O mundo em desgoverno, desconcerto das nações, as pessoas desorientadas, os jovens sem sentido da vida, a avalanche das ideologias. E por aí vai, enquanto, hoje, para testar a qualidade de vida do humanoide, somos atacados por uma pandemia viral, esse famélico Covid-19, o Coronavírus. E o mundo, nós, sobreviventes da Terra de Santa Cruz, emparedados por uma quarentena sem fim.
Nestas apopléticas circunstâncias, quem se propõe restaurar a estabilidade do mundo e a nossa? Nos Estados Unidos, Trump? E no Brasil,  — Bolsonaro? Ambos, que se propuseram pegar o boi à unha e reedificarem suas nações, agora sofrem crítica e ação ferrenha dos opositores, a esquerda militante, o vandalismo social e o trabalho diário de uma mídia apócrifa, vendida ao poder globalista do momento. Dias atrás, uma médica de 34 anos, sem qualquer ingerência em atos lesivos ou cor política, é assassinada em tentativa de sequestro na linha vermelha, Rio de Janeiro. E incrível — a mídia fez vista grossa do assunto.
É assim que, em nosso torrão as coisas vão acontecendo, com cenários estapafúrdios: de um lado um Presidente, eleito com mais de 50% de votos, acuado por uma oposição que não aceita perder no jogo democrático, sob o fogo cerrado de artifícios jurídicos inconstitucionais — é impedido de governar. E mais, açoitado diariamente por uma mídia incauta e antipatriota. De quebra a pandemia, o povo trancado dentro de casa, sem trabalhar.
Que se há de fazer, senão orar, orar e isto, sim, esperar que o COVID-19, dê cabo dessa safadeza toda e por algum jeito e forma ensine nosso povo a pensar.
CDL/Bsb, 26.06.20


quinta-feira, 11 de junho de 2020






            PANDEMIA: ATOS E FATOS 
                       PARA REFLEXÃO













Em crônica admirável, Innocêncio Viégas, amigo e Confrade — este que vos escreve e ele ambos pertencemos à Academia de Letras de Brasília – ACLEB — nos revela, sempre ao saber de sua verve peculiar, sentir-se desconfortável com essas práticas a vigerem no período de quarentena, adotadas  por causa de um ataque virótico, no País e no mundo, chamado coronavirus. As pessoas agora não podem mais se abraçar, se solidarizarem uns com outros, como dantes, efusivamente, um aperto de mão, beijar os filhos, afagar com doçura os netos. Tudo se tornou defeso, um poderoso inimigo, de origem microbiológica, tomou de assalto as relações humanas.
Que reflexão podemos fazer de tudo isso, é o que nos tem preocupado também ao viver esses tempos sombrios. Será que nos tornamos, pessoas cordiais, honestas, de repente inimigos um do outro, até de falarmos perto, contarmos um segredo? Dá-nos a estranha sensação de que nós, humanos, seres por excelência sociáveis, fomos atacados por uma doença torpe, que nos afasta do outro, aquele que é nosso próximo, considerá-lo nosso desafeto em vez de um irmão. Sinal dos tempos, a fraternidade sumindo do mundo?
Sempre atento aos ensinamentos religiosos, teólogo que é na sua formação, o cronista acadêmico nos traz a lume o exemplo daquele momento, inscrito nos Evangelhos, em que Jesus recém ressuscitado do túmulo diz a Maria Madalena, sua discípula: Noli me tangere — avisa-a que não lhe tocasse porque Ele ainda não tinha ido ao Pai (Jo 20, 1-17). Ele, o Salvador do mundo, antes de servir ao mundo, precisava do beneplácito de Deus. Nós, míseros mortais, que nos supomos sapiens, nos afastamos um dos outros, não por falta da permissão divina, mas, sim, por nos tornarmos impuros, contaminados por um vírus infamante.
Sem ser teólogo como meu digníssimo confrade o é, não me furto a lucubrar sobre certas sutilezas evangélicas, aquela passagem   em que o Mestre, sóbria e filosoficamente, responde aos maliciosos saduceus, que lhe queriam confundir com sofismas sobre ressurreição, que estavam errados, pois as leis do Reino de Deus seriam estas: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22 23-33).
E tantas outras reflexões podem nos advir nesse período pandêmico, em que desavenças políticas, sociais e familiares se acendem, talvez trazidas pelo próprio ar que se tornou iníquo, nas telas de TV, nos jornalecos e nas vozes de muitos sofisticadores, que, envenenados pelo Covid-19, imitam hoje aqueles antigos saduceus que achacaram o Mestre e fazem a cabeça de nossa geração.

CDL/Bsb, 11.0620

  

sábado, 16 de maio de 2020



IMAGINÁRIO DE

        UMA PANDEMIA








O que fazer numa paralisação pandêmica como a que vivemos agora? Dormir o tempo todo? Esbravejar contra o Governo, as estrepolias da oposição, inventando mentiras para apear o Presidente eleito do poder?
Tempos difíceis esses, tenebrosos mesmos que estamos a viver. Será que nosso País e o mundo todo foram pegos de outra espécie de epidemia, o histerismo coletivo de loucura viral?
Senão vejamos. Grassa a anarquia entre os políticos, tudo vale tudo entre os pares. Não se sabe mais o que é mentira e o que é verdade, foro íntimo não interessa, todos usam máscara, a persona do que é sibilino, para a política e  a sociedade — não só para supostamente nos prevenir contra o Covid-19, mas nos blindar de nossa própria insânia. Estamos todos à beira do niilismo escatológico dos últimos dias. Exagero ou realmente indícios dos prolegômenos apocalípticos?
Praza aos céus que tudo não passe de um pesadelo, que atravessamos a duras penas — águas passadas não movem moinho, mas desta feita parece que sim, movem consciências ou removem entulhos de proficiências negativas. Sabe-se lá quanto e como.
O que fazer? É o que aconselhamos: primeiro, desanuviar a mente, desacreditar na mídia falada e escrita. Desenvolver nosso tirocínio, para além do raciocínio relativista. Ler os clássicos, por exemplo:  Tolstói, Dostoiévski, Goethe, Byron, Shelley, Shakespeare. Mas as bibliotecas, esses templos do saber, estão fechadas, os autores novos podem atender nossos anseios literários, caso tenhamos um punhado deles à mão.
Relembremos aquela escritora provinciana, maranhense da antiga Província de Guimarães — Maria Firmina dos Reis, resgatada há pouco tempo do anonimato. Afrodescendente,  pobre, professora interiorana, assim mesmo ela escreveu um romance em 1859, Úrsula, e o publicou, certamente com ajuda de alguém importante, pois sem recursos. Fala-se em Sotero dos Reis  tê-la ajudado, erudito, lexicólogo, prestigiado na Capital ludovicense à época,  por ser sua parenta distante. Talvez seja a primeira mulher negra a escrever sobre a escravidão no Brasil. Interessante seu romance, estilo ultrarromântico, talvez cinzelado, aqui ou ali, no Cabana de Pai Tomás, obra viralizada no início do século nos Estados Unidos.
De nosso pequena estante, retiro um dos favoritos: Machado de Assis, velho conhecido, seus maravilhosos contos: Missa do Galo, Religião do Diabo, O Espelho  e tantos outros de sua inventiva. Romances: Dom Casmurro, Helena. A Mão e a Luva, Obras Póstumas de Brás Cubas, Esaú e Jacó — incomparáveis.
Mas colhamos escritores mais novos. Vem-nos à mente logo Lygia Fagundes Telles, estilo mágico, prosa primorosa. Outra é Clarice Lispector com seus contos fantásticos, suis-generis. Na mesma linha, o chamado realismo mágico brasileiro, da estante retiro José J. VeigaA Hora dos Ruminantes, A Casca da Serpente, este tenho autografado pelo autor.
Uma visita aos escritores maranhenses. Em mãos a obra-prima de Josué Montello, Os Tambores de São Luís,  obra de fôlego, uma viagem magistral através da cultura ludovicence. Outro não menos importante é João Mohana, médico, escritor e sacerdote: O Outro Caminho e Maria da Tempestade. Bom relê-los, Mohana inclusive foi premiado pela Academia Brasileira de Letras.
 Não só de pão vivemos, obtemperam as verdades evangélicas pela voz do Mestre da Galileia. Alimentar o espírito também é uma opção para garantir nosso poder de reflexão, tal qual a busca pela verdade, o valor como medida valorativa da justiça e do bem no mundo. Este é o assunto que nos desvia da literatura para a filosofia. E eis um livro precioso que encontro na estante, algum tempo esquecido — Filosofia dos Valores, o autor professor e filósofo alemão Johannes Hessen. Minucioso estudo sobre o que é o valor e sua aplicação à nossa vida, pois, segundo o erudito mestre alemão, é o valor e não o homem a medida de todas as coisas como preconizou, erroneamente,  o pré-socrático Protágoras de Abdera (481-411 a.C).  
São estas as reflexões que nos impõe, por enquanto, esse extemporâneo isolamento das coisas e do mundo. 
CDL/Bsb, 17.05.20    

 

sábado, 25 de abril de 2020







TUMULTO  EM  PINDORAMA 
      
      A  CONTRADITA 
     




Haja tumulto em Pindorama — a Terra Psittacörum, República que dista logo abaixo do Equador. Ministro de importante pasta de recém-empossado Presidente vem a público e diante dos canais de rádio e televisão, intempestivamente se exonera do Governo, alegando várias imputações.
No dia seguinte, a contradita do Presidente vem a galope e diante da mesma mídia, abre o verbo:
“Meus compatriotas, Pindoramenses. Com a alma e o coração estarrecidos, faço minha contradita às palavras, mais ou menos insidiosas, que nesta mesma mídia, ontem, me imputou meu subordinado. Este senhor eu conheci quando de minha campanha,  apenas de vista e de chapéu, e que, depois, devido seu eficiente currículo, o recrutei,  para compor meu Ministério. Agora, em meio a esse verdadeiro vendaval de pandemia que assola o mundo, sem falar na luta que vimos empenhando de maneira hercúlea contra as organizações criminosas, corrupção,  politicagem, que durante décadas vem corroendo essa Nação, eis que essa pessoa, a quem confiei importante Pasta, em quem depositei minha confiança, me atraiçoa, e pior me imputa acusações absurdas e inteiramente aleivosas contra minha pessoa e atuação frente ao Governo. Como é sabido e notório, não sou homem de meias palavras e pauto minha vida e minhas ações sempre com honestidade. Portanto, não admito que me enlameiem a pessoa e meus familiares com acusações profanas e injustas, como essas trazidas  à baila e em público por esse senhor, a quem confiei e dei-lhe carta branca para agir, sempre em favor da Pátria e do povo que a consolida.”
E continua o Presidente sua peroração, de forma sempre dura, honesta, considerando-se atingido nos seus brios pessoais e cívicos:

“Patriotas que anseiam pela recuperação desta Nação vilipendiada por aqueles que querem ver o circo pegar fogo, o quanto pior melhor, revolucionários de gaveta e sicários de movimentos espúrios, os quais se  aproveitam do momento  para me afastar do Poder, mas jamais conseguirão porque os motivos são torpes e inconstitucionais. Resta-me dizer aos cidadãos de bem e àqueles que ainda acreditam na restauração de nossa liberdade, que jamais recuarei um centímetro em prol de nossa Pátria e tudo farei, com o risco até minha vida e a de meus familiares, para fazer deste País, que diga-se de passagem, não merece a oposição indigna que fazem ao nosso Governo — uma Nação  com seu povo mais livre, feliz e forte economicamente, como deve ser uma grande Nação.
Era o tinha a dizer. Que Deus nos acompanhe em nossas ações e julgamentos que fazemos. “
                                                       Bsb, 25.04.20

quarta-feira, 22 de abril de 2020






AVE  BRASÍLIA, BRASILÍADA




                            Murilo Moreira Veras


Brasileiros, brasileiras, ouvi-nos,
Mitológicos entes, Zeus, Apolo, Atena, Hermes,
                        de bons aires insuflai-nos.
Dante, Camões, Schelley, Goethe, amparai-nos
que um brado mais alto se alevanta
O que somos nós — frágeis criaturas.
O que somos nós — aleatórias sombras.
Vagamos neste grande imperfeito vale
Artefatos ambulantes à busca de incertezas.
Entrementes, dir-vos-ei  — somos inconfidentes
                       de uma trama em curso.
Ignotos são nossos caminhos,
refluxo de pedras e sonhos.

Nestes tempos exercemos o exílio endêmico.
Vivemos sem visão do mundo.
Antropofágica e insana, a mídia trespassa
                       a fronteira da verdade.
O pânico se alastra, cérebros e corações
                        contaminados.
E vige o estrabismo de casa arrasada.
Afinal, quem somos? Títeres do imobilismo cerebral
                        de alguns?
Figuras mambembes de um Gran Circo
                         de fantoches?
Não. Somos visionários, contra nós erige-se, sim,
                         o estrépito infame da cizânia.
Do arco-íris da vida, ousam nos apagar os sonhos.
                        

Névoas sombrias vislumbram-se no céu lúdico
                         da nova Brasilíada.
Nas asas edênicas da Capital da Esperança,
                         tripudiam engodos e insídias.
A tirania da pandemia ao invés da
celebração dos sessenta anos de Brasília,
as premonições de Dom Bosco, de leite e mel, esquecidas.
Agora soam os oráculos, a sandice das bravatas.
Vitupérios de almas em pânicos.
O que somos, não há razão que justifique as sombras
                           no exílio nas cavernas dos lares.
Somos símiles da claridade do paraíso lá fora.
Somos seres ou mitos — justiceiros ou factoides
                           engaiolados?
Entes verdadeiros ou simples sombras irônicas
                            do não-ser?
Brasília, Brasilíada, panorâmica, visionária, sonho
                            épico de Dom Bosco.
Querem ocultar teu helênico destino,
sátrapas ideológicos denigrem a vertente de
                            tua Brasilidade,
Tu que nasceste plantada na fé e na esperança.


Eis que no teu céu acrílico de ventura
já se vislumbram as luzes da Justiça,
a semeadura do leite e do mel,
que sufocarão as sinecuras do Mal.
Libertos, ilesos do torvelinho da algaravia,
oxalá possamos dizer, eufóricos:
— AD LUCEM, BRASÍLIA.
Para cima e para alto, sempre.
                                             
                                                    Bsb, 21.04.20